"That uncertain feeling" (1941-Ernst Lubitsch)
A mais perfeita das comédias, para mim, é "O que pensam as mulheres" ("That uncertain feeling"), de Ernst Lubitsch.
Lubitsch, o homem do famoso "touch", é um mestre da elipse. Uma das suas mais brilhantes descobertas é tirar partido da cena vazia, onde o principal da acção se passa fora do ecrã. Acabamos por ter conhecimento dela apenas pelo seu efeito nas personagens que regressam à cena. Como no teatro, nunca vemos a guerra, quando muito ouvimos alguns disparos. Sebastian empenha-se no seu virtuosismo pianístico para cativar Mrs. Baker, recorrendo a várias metáforas eróticas (desde o arroubo à titilação). Mrs. Baker sai da cena pela direita. Sebastian segue-a. Vemos apenas o piano. Mas logo a seguir, pelo entusiasmo com que o executante ataca o teclado, percebemos que obteve, fora do ecrã, o que pretendia.
Mas o tema do filme não podia ser mais propício ao génio de Lubitsch. Estamos em pleno território da nuance e do subentendido.
Pelo caminho, faz-se uma corrosiva crítica dos costumes e da moda psicanalítica.
Tudo começa pelos soluços de Mrs. Baker (Merle Oberon). Aconselhada pelo dr. Vanguard (o nome diz tudo) passa a analisar à lupa o comportamento de Mr. Baker (Melvin Douglas). Claro que não podia deixar de "descobrir-se a si própria", isto é, de conceber o divórcio como único remédio para tanta desilusão.
Porque o amor é o contrário da análise (Cupido não é representado com uma venda nos olhos?).
Aquele incerto sentimento, como se sabe, necessita de constantes provas e confirmações e do que precisa menos é da suspeita de que tudo deve ter um motivo.
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