"The gladiator" (2000-Ridley Scott)
"O imperador combateu nesta qualidade (de secutor) setecentas e trinta e cinco vezes. Estes feitos gloriosos foram cuidadosamente registados nos fastos do império; e para não fugir à mínima circunstância infamante, recebia do fundo comum dos gladiadores um estipêndio tão exorbitante que se transformou num novo e vergonhoso imposto sobre o povo romano."
"Declínio e Queda do Império Romano" (Edward Gibbon)
O imperador é Cómodo (interpretado por Joaquin Phoenix no filme de Ridley Scott), o vicioso filho do imperador-filósofo Marco Aurélio.
Hoje, por um lado, parecem-nos 735 vezes de mais. Mas não havia contra-poderes, nem assembleias (abolidas desde o tempo de Augusto) e o Senado estava inteiramente subjugado.
Sem uma ideia política na cabeça, nem, minimamente, dos deveres do seu cargo, este homem conseguiu estar durante treze anos à frente da maior potência do mundo à época.
Seguiu a sua inclinação natural para a devassidão e a crueldade, com uma "liberdade" que nem Sade imaginou para o seu isolado castelo de Silling.
Esta licença absoluta no cume do poder dependia dum complexo sistema de equilíbrios em que as províncias e os grupos dominantes encontravam o seu interesse.
Mas, morrendo às mãos dos seus domésticos, que temiam pelo seu próprio futuro perante um amo tão imprevisível, a roda da fortuna podia voltar a girar.
É a situação do "Kagemusha" ("A sombra do guerreiro"), o filme de Kurosawa. Apenas o prestígio e o medo governavam. O homem não estava lá ou tinha enlouquecido.
Pegando agora na questão por outro lado: não antecipava Cómodo, ao mostrar-se na arena, os modernos exercícios da demagogia?
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