sexta-feira, 28 de março de 2014

O ARREPENDIMENTO DA PEDRA

 

"Sempre que a obra é de artesão, o modelo da obra está fora da obra; mas tanto quanto é obra de artista, é a obra mesma que é o modelo."

(Alain)

 

O que é dizer que o formalismo não é verdadeiro. A forma pode ser completamente exterior, como no caso do artesão (embora neste, possa ser um modelo consagrado).

É preciso que a estátua nasça do bloco de mármore e de cada golpe do cinzel. Mas não sem a ideia que já explorou o material.

Romain Rolland na sua "Vie de Michel-Ange" diz:

"Está, no Museu Nacional de Florença, uma estátua de mármore, que Miguel Ângelo chamava 'O Vencedor'. É um jovem nu, de belo corpo, os cabelos encaracolados sobre a fronte baixa. De pé e direito, impõe o seu joelho no dorso de um prisioneiro barbudo, que se dobra e estica a cabeça para a frente, como um boi. Mas o vencedor não olha para ele. No momento de assestar o golpe, detém-se, desvia a sua boca triste e os seus olhos indecisos. O seu braço recolhe apoiando-se no ombro; recua; já não quer a vitória, ela repugna-lhe. Ele venceu. Ele foi vencido."

Imaginamos facilmente como o movimento do braço ditou o arrependimento e como ambos foram 'ditados' pelo próprio mármore.

 

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