Jules Michelet (1815/1879)
"O prelado lembrava que Deus tinha muitas vezes revelado a virgens, por exemplo às sibilas, aquilo que escondia aos homens. O demónio não podia fazer pacto com uma virgem; era preciso pois que se assegurassem que ela era de facto virgem. Assim, a ciência levada ao seu extremo, não podendo ou não querendo explicar-se sobre a delicada distinção entre boas e más revelações, humildemente remetia das coisas espirituais para o corpo, e fazia depender do mistério feminino esta grave questão do espírito."
"Jeanne d'Arc" (Jules Michelet)
A incrível história de Jeanne, uma pastora de 18 anos, que se apresentou ao Delfim de França com a missão de expulsar os Ingleses e, depois das vitórias militares, ter tornado possível a sagração, em Reims, de Carlos VII, acabou queimada como feiticeira, é a mais maravilhosa das apologias do Cristianismo e uma verdadeira "Imitação".
É o sacrifício do Justo na sua versão feminina, tema que não podia deixar de apaixonar o maior historiador da França, cuja inspiração permanente foi uma espécie de fisiologia do transcendente, como aquela que atribui à Mulher.
O que impressiona naquela citação é a implícita aliança do demónio com o sexo. Como se a Igreja, através dela, dispusesse dum teste tão "visível" como o da tintura de tornesol.
Mas é o que nos parece uma ingenuidade quase incompreensível em todos os actores da tragédia que explica o heroísmo de Jeanne e a credulidade do poder que por um momento lhe foi confiado.
0 comentários:
Enviar um comentário