Félix Mendelssohn (1809/1847)
"Primeiro, escreve Mendelssohn, não queria ouvir falar de Beethoven; mas teve de passar por isso, e escutar o primeiro pedaço da Sinfonia em ré menor, que mexeu com ele estranhamente. Não quis deixá-lo transparecer e contentou-se em me dizer: "Isso não nos toca, apenas surpreende." Ao fim dum certo tempo, continuou: "É grandioso, insensato! Dir-se-ia que a casa vai desabar."
Veio a ceia, durante a qual ele permaneceu entregue aos seus pensamentos, até ao momento em que, voltando a Beethoven, se pôs a interrogar-me e a examinar-me. Vi bem que o efeito se tinha produzido..."
(citação duma carta de Mendelssohn por Romain Roland no seu "Beethoven")
O jovem Mendelssohn passou por Weimar em 1830 e fala-nos do seu encontro com Goethe.
Apetece-me dizer como Bernardo Soares sobre os "Picwick Papers" de Dickens, que não poder voltar a ouvir (como da primeira vez) Beethoven é uma das "grandes tragédias da minha vida".
A impressão que a sua música inovadora produziu no grande poeta alemão, homem entre os mais cultos e sensíveis do seu tempo, é difícil de imaginar.
Sem ter o sucesso planetário de Mozart, que além de génio da música, tem uma dimensão lendária, Beethoven é um grande candidato à canonização democrática. O seu "busto" musical já foi apropriado pelo ambiente e ouve-se enquanto se aguarda que se faça uma ligação telefónica. A maioria corre o risco de para sempre desconhecer a sua grandeza.
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