segunda-feira, 12 de agosto de 2013

MUITO COMPLICADO, DE FACTO

Edgar Morin

 

"Penso que é preciso ligar as duas (concepções internalista e externalista da história), e isso convém também para outros desenvolvimentos que não o das ciências. Assim, houve quem quisesse compreender a perversão da União Soviética a partir de factores internos, tais como as insuficiências da doutrina de Marx, as limitaçōes da de Lenine. Outros pretenderam imputá-la a elementos exteriores tais como o cerco e a hostilidade das potências capitalistas em relação à União Soviética ou elementos anteriores como o atraso da Rússia czarista. Ora o verdadeiro jogo cognitivo é ligar estes dois aspectos de maneira dialógica."

(Edgar Morin)

 

O conceito de complexidade que Morin atribui ao "que é tecido conjuntamente" faz-nos imediatamente lembrar a expressão "isto está tudo ligado" que provém de uma intuição que me atreveria a dizer que é tão antiga como homem. As religiões mais antigas desconhecem os 'mundos separados'. E René Thom, o teorizador da noção de catástrofe, dá-nos na célebre imagem do bater de asas da borboleta que provoca uma tempestade no outro extremo da terra o melhor exemplo de que nada é 'desprezável' para o equilíbrio do mundo 'ligado'. Pascal não nos diz outra coisa com a história do nariz de Cleópatra...

É o espírito sistemático que acaba por reduzir os fenómenos significantes a 'valores desprezáveis' na medida em que não são considerados pelo sistema.

Morin refere também que este regresso cognitivo à intuição (sabemos como o contra-intuitivo deixou de ser um limite desde o abandono da teoria geo-cêntrica) "emergiu de maneira marginal numa esfera de matemáticos-engenheiros".

Que extraordinário paradoxo! No fundo, é uma confissão indirecta de humildade. Como, quando confrontados com um problema difícil ou uma incapacidade de comunicação, nos resignamos a dizer que isso é demasiado complicado...

 

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