Diz Michel Houellebecq ('Les particles élémentaires') que o 'eu' é uma nevrose intermitente. Nessas intermitências, não coincidimos com o que somos. Não por culpa nossa, evidentemente, pois começamos por não saber o que somos.
Proust foi o primeiro a falar nas 'intermitências do coração', a propósito do amor. Para onde vai o coração nesses intervalos? E de que realidade se fala ao invocar a nevrose do eu?
A pérola e a ostra. Podíamos chamar à primeira o sintoma do que 'vai mal' na existência da segunda? Se essa é a realidade, damo-nos bem com ela, porque apreciamos ambas.
Mas, em princípio, a nevrose devia fazer-nos infelizes. A pérola da nossa espécie, a consciência desenvolvida, seria então o sintoma de um desequilíbrio, de uma separação irremediável?
Segundo uma das personagens do romance, Michel Dzerjinski (como o chefe da Tcheka), não é a consciência que está em causa, mas o seu aprisionamento pelo eu, o que é também uma questão gramatical.
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