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"Abordar uma semiótica do silêncio: pode ser uma semiótica da reticência, uma semiótica do silêncio no teatro, uma semiótica do silêncio em política, uma semiótica do silêncio no discurso político, isto é, uma longa pausa (...);"
(Umberto Eco)
Um regime palavroso parece, pelo contrário, o menor dos males na política. Não se concebe, de facto, a democracia sem o exagero da palavra. Os Gregos eram um povo tagarela. Isso talvez os tenha feito 'descolar' do 'estado teológico', como dizia Comte.
O grande silêncio vinha do mundo dos não-cidadãos, essa massa de produtores sem direitos que ainda fazia parte da Necessidade.
A ideia de Hegel é que esse 'silêncio' tinha consequências de longo alcance. O escravo diligente estaria destinado a vencer o patrício cuja virtude não resistiria à corrupção dos costumes. Os estóicos não estavam longe de admitir que o escravo pensava melhor.
O 'menos mau dos regimes' escapará a essa regra do estoicismo? Para além de tudo, a palavra já não é o que era. Não conhecemos a palavra livre a não ser, talvez, nalgumas tertúlias. A palavra política é, em primeiro lugar, mediatizada. Até os partidos que representam um colectivo artificial perdem a fala que lhes é própria e, sobretudo, já não falam para o seu 'nós' , a sua parte do eleitorado, mas para a televisão.
Tudo isto gera um grande desejo de silêncio, mas de um silêncio ameaçador, porque já não faz parte do político. Pertence mais à esfera do doméstico, que era no tempo dos Gregos o mundo privado e, no fundo, o da Necessidade. Arendt dixit.
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