A Batalha de Arcole (1796) |
"Os poucos instantes em que a legalidade reapareceu tinham bastado para tornar impossível o restabelecimento do arbitrário. O despotismo açaima as massas, e liberta os indivíduos até um certo limite; a anarquia desencadeia as massas e subjuga as independências individuais. Daí que o despotismo se assemelhe à liberdade, quando sucede à anarquia; ele permanece o que é verdadeiramente quando se substitui à liberdade; libertador, depois da constituição directorial, Bonaparte era opressor depois da Carta."
“Mémoires d'Outre-Tombe"
(Chateaubriand)
Podia dizer-se que a Carta instituía a liberdade das 'independências individuais' de um certo tipo, uma hegemonia de classe, enfim, mas isso era sempre melhor do que a anarquia.
Como se vê no Julien Sorel de Stendhal ("Le Rouge et le Noir"), o despotismo napoleónico tinha imensos adeptos, porque para além de impressionar as almas ardentes duma juventude ambiciosa, pela glória dos feitos militares, correspondia a um verdadeiro 'elevador' social, à custa dos poderes abalados pela Revolução.
Bonaparte, mais tarde, desiludiu meio mundo por ser 'igual aos outros', ao levar o teatro da própria glorificação a exageros ubuescos.
Chateaubriand detestava-o, com uma admiração sofrida. Estava ali o homem que conseguira livrar o país da anarquia das massas e, o que não é menos importante, da anarquia de leis impossíveis ditadas por um regime suicida. Mas o despotismo com que o cônsul pretendia curar esses males não servia a classe moribunda do grande autor.
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