segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O "N" DOURADO

A Batalha de Arcole (1796)

 

"Os poucos instantes em que a legalidade reapareceu tinham bastado para tornar impossível o restabelecimento do arbitrário. O despotismo açaima as massas, e liberta os indivíduos até um certo limite; a anarquia desencadeia as massas e subjuga as independências individuais. Daí que o despotismo se assemelhe à liberdade, quando sucede à anarquia; ele permanece o que é verdadeiramente quando se substitui à liberdade; libertador, depois da constituição directorial, Bonaparte era opressor depois da Carta."

“Mémoires d'Outre-Tombe"

(Chateaubriand)

Podia dizer-se que a Carta instituía a liberdade das 'independências individuais' de um certo tipo, uma hegemonia de classe, enfim, mas isso era sempre melhor do que a anarquia.

Como se vê no Julien Sorel de Stendhal ("Le Rouge et le Noir"), o despotismo napoleónico tinha imensos adeptos, porque para além de impressionar as almas ardentes duma juventude ambiciosa, pela glória dos feitos militares, correspondia a um verdadeiro 'elevador' social, à custa dos poderes abalados pela Revolução.

Bonaparte, mais tarde, desiludiu meio mundo por ser 'igual aos outros', ao levar o teatro da própria glorificação a exageros ubuescos.

Chateaubriand detestava-o, com uma admiração sofrida. Estava ali o homem que conseguira livrar o país da anarquia das massas e, o que não é menos importante, da anarquia de leis impossíveis ditadas por um regime suicida. Mas o despotismo com que o cônsul pretendia curar esses males não servia a classe moribunda do grande autor.

 


 

0 comentários: