"'Essa 'saloia macaqueação', superiormente denunciada por elle n'uma carta que me escreveu em 1885, e onde assenta, n'um luminoso resumo, que 'Lisboa é uma cidade traduzida do francez em calão'―tornava-se para Fradique, apenas transpunha Santa Apolonia, um tormento sincero. E a sua anciedade perpetua era então descobrir, através da frandulagem do Francezismo, algum resto do genuino Portugal.”
(Eça de Queiros, “A correspondência de Fradique Mendes.”)
"Lisboa, não sejas francesa, tu és só para nós", disse o fado depois (diria, se não fosse o 'mot' do grande Eça?)
A verbe queiroziana fixou para sempre esta 'macaqueação' do estrangeiro. Simplesmente, o brilho francês vem-se apagando neste tempo de 'cópia' universal. A adopção de um costume ou de uma ideia não implica, em nada deste mundo, carregar ou descarregar as malas em Santa Apolónia sem um 'táxi' à vista, como aconteceu ao pobre do Jacinto. "Apanham-se", como uma gripe, na Rede. Se alguma vez fomos 'macacos de imitação', podemo-nos rir agora dos sacerdotes do vernáculo.
Paris já não é a 'cidade-luz', é mais um destino, no 'site' de uma companhia 'low cost'.
Sem maior convicção do que em outros lugares, aqui seguimos modas como o 'economês' ou o 'eduquês'. A infecção ultrapassa as fronteiras conhecidas e nem precisamos de traduzir, porque o inglês supostamente prático de um manual de instruções traçou já o limite da literacia.
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