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"No fundo, a lei que governava a tua vida consistia em crer na verdade absoluta das opiniões de uma certa classe judaica, que o mesmo é dizer, uma vez que essas opiniões faziam parte da tua pessoa, em creres em ti mesmo. Mesmo isso comportava ainda uma boa parte de judaísmo, mas em relação à criança, era demasiado pouco para ser transmitido, o teu judaísmo esgotava-se completamente enquanto o confiavas nas minhas mãos."
"Lettre au père" (Franz Kafka)
No fundo, é de insensibilidade que Kafka acusa o pai. O que lhe servia a ele (a herança judaica) não podia ser transmitido sem tradução pessoal e apaixonada.
"Era impossível fazer compreender a uma criança que observava tudo com todo o excesso de acuidade nascido do medo, que algumas frioleiras que tu executavas em nome do judaísmo, com uma indiferença proporcional à sua futilidade, podiam ter um sentido mais elevado."
O pai parece aqui um fetichista da letra, de tal modo confia no simples poder do texto e do ritual para comunicar a verdade em que acredita.
E essa atitude é a mesma, afinal, de toda uma sabedoria prática que a Igreja católica, por exemplo, pôs em acção ao longo dos séculos. Antes de obedecer em espírito, ajoelhar.
Não era, todavia, o modo de desarmar a inteligência defensiva de uma criança perante a autoridade paterna esmagadora que reproduzia nela o seu próprio judeu e a culpa absoluta.
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