segunda-feira, 19 de agosto de 2013

GASTOS LOUCOS

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Dizia Alain que a verdadeira desordem não era existirem grandes fortunas; a verdadeira desordem era haver loucas despesas.

Entende-se que as 'grandes fortunas' não se metem debaixo do colchão, caso em que tudo seria muito diferente. António Champalimaud, por exemplo, terá gasto dinheiro 'loucamente'? Parece que não foi nisso que se distinguiu, mas antes no seu empreendorismo narcísico ou em fazer fortuna com o dinheiro dos outros, fortuna que nunca foi para 'debaixo do colchão', nem foi ocasião para extravagâncias ruinosas para o país, mas que ele teria podido permitir-se.

Um burocrata do Estado, sem arriscar nada do seu 'pé-de-meia' podia fazer igual figura, sempre com o dinheiro que não era seu, mas se falhasse, o pior que lhe podia acontecer era ter de apresentar a demissão. Há aqui uma grande diferença.

Voltando ao aforismo alainiano, a escala em que uma 'grande fortuna' pode ser oferecida em 'potlatch' aos deuses inferiores, pode não ser muito menor, em certos casos, do que uma política governamental irresponsável ou simplesmente errada, mas no nosso país será esse o estilo dos muito ricos? A Inglaterra deve gastar mais com a lista civil da Rainha do que esses outros aqui em despesas 'sumptuárias'.

Portanto, a 'verdadeira desordem' tem outra causa. E nem o génio individual dos nossos hipotéticos 'grandes empresários', nem os putativos esforços de quem nos governa em prol do 'bem comum' chegam para endireitar a nossa jangada.

Uma coisa só parece certa: é que não há rumo, nem pode haver (fora da retórica). Mas basta uma ficção, como a de reivindicar o destino quando ele é conhecido.

 

 

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