terça-feira, 6 de agosto de 2013

AS MÃOS DE HITLER

Hitler in prison after Beer Hall Putsch

 

"O que não foi possível demonstrar convincentemente foi qualquer influência directa das posições e comportamentos políticos de Heidegger sobre o seu génio em 'Sein und Zeit', sobre as suas releituras imensamente relevantes de Platāo, Aristóteles, Kant, Schelling e Nietzsche."

George Steiner

A verdade é que se não conhecêssemos nada sobre a pessoa de Platão, nenhum dado biográfico documentado, não deixaríamos de tomar a sua obra pelo que ela é, em si mesma, independentemente das hipotéticas 'contradições' na sua moral e no seu comportamento político. Pouco sabemos de Shakespeare, e até pômos em dúvida a autoria das suas peças. Mas não valem elas por si mesmas? O maior crime do presumido autor não poderia beliscar a obra-prima. Caravaggio, dado o que sabemos da sua vida violenta e das acusações que pendiam sobre a sua pessoa, pode ser, por alguns, considerado um 'monstro'. Pois bem, a pintura desse 'monstro' está acima de qualquer juízo policial.

Não se pode dizer, claro, o que na obra depende das paixões, mesmo das mais infames. Que uma íntima relação deve é provavelmente certo, mas sem prova possível. Até certo ponto, o que permite ao artista 'maldito' (se assim se pode dizer) sobreviver à consciência dos seus 'pecados' é a espécie de santidade do génio.

Tenho de falar em 'pecado' para compreender esta passagem de Steiner:

"A famosa observaçāo que Heidegger comunica a Karl Löwith sobre a beleza das māos de Hitler deixa, a uma tal luz, de nos parecer uma aberraçāo momentânea."

 

 

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