"A clockwork orange" (Stanley Kubrick) |
"A visão não é já a possibilidade de ver, mas a
impossibilidade de não ver."
(Gary Hill, citado por Paul Virilio)
A experiência
realizada em Alex, o herói negativo de "Laranja Mecânica", conhecida
por técnica Ludovic, procurava isso mesmo: a impossibilidade de não ver. O
espectáculo da violência não podia ser moderado, as pálpebras eram paralisadas
de modo a não se permitir nenhuma pausa e a tornar a visão insuportável, segundo a
"terapia da aversão".
Alex pôde sair da prisão, reconciliado com a sociedade,
mas a experiência tinha feito do cadastrado um castrado, inadaptado ao seu
ambiente agressivo.
A sociedade permite-se a aparência da tolerância, mas
sempre à custa de um maior auto-controlo dos indivíduos. Esse controlo implica
a existência de sinais que não podem deixar de ser vistos. É como na
velocidade, em que é obrigatório ver.
Assim, as coisas que poderíamos ver e que nos permitiriam
a expansão do nosso ser cedem o lugar ao mais urgente.
O preço da velocidade é um maior auto-controlo. Mas no
horizonte perfila-se já o automatismo que nos dispensará desse esforço e do
risco consequente.
Como Alex, quando sai da clínica, poderemos viciar-nos
numa segurança que não existe na realidade.
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