"O objecto amado é simplesmente o que partilhou uma
experiência ao mesmo tempo, narcisisticamente; e o desejo de estar próximo do
objecto amado não é devido num primeiro tempo à ideia de o possuir, mas
simplesmente à de deixar as duas experiências se compararem, como reflexos em
diferentes espelhos."
"The Alexandria Quartet" (Lawrence Durrell)
Era Lacan que dizia que não há relação. Narciso revê-se
nos espelhos e ama tudo o que devolve a sua imagem. Quando a opinião corrente
parece encontrar uma justificação para tudo no puro egoísmo, esta explicação do
amor não devia oferecer qualquer dificuldade.
Mas tudo depende de identificarmos o narcisismo com o
ego. E isso é o que não se pode. Não há qualquer 'interesse' nos motivos deste herói, filho de um deus-rio.
Aliás, a sua atracção por si próprio ( ou pela sua imagem ) é um castigo de
Némesis que lhe há-de provocar a morte. Como se vê, todo o contrário do egoísmo
que, até certo ponto, se deve considerar natural.
Tal como na grande obra de Musil, a paixão dum pelo outro
entre Ulrich e Ágata, na sua impossibilidade de ser 'concretizada', nos remete
para a morte como única perfeição da admiração mútua, Durrell, através da sua
personagem Justine, repete-nos que aquilo a que chamamos amor é uma precaução
contra a sentença de Némesis.
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