"Estou a acostumar-me à ideia de ver cada acto
sexual como um processo no qual quatro pessoas estão envolvidas. Teremos muito
que discutir sobre isso."
( Freud, "Cartas")
Sob esta epígrafe, Durrell começa o seu "Quarteto de
Alexandria". Esse número, estrutural na teoria do criador da psicanálise,
podia ser outro no romance. Além disso, aqui, os dois homens (Balthasar e
Mountolive) e as duas mulheres (Justine e Cléa) cujas histórias formam o
quarteto não têm qualquer relação familiar entre si e uma das mulheres
(Justine) também podia dizer-se um andrógino.
Aliás, o autor diz que a mítica cidade tem seis sexos.
Mas o importante, não é verdade, é a ideia freudiana da
realidade simbólica destes actores numa actualidade que se caracteriza pela ausência. O "tour de force" é de monta. E o seu êxito dentro da
tradição pragmática e empirista dos americanos põe em causa algumas ideias
feitas.
Lawrence Durrell reserva a mais secreta iniciativa à
cidade de Cavafi (o 'velho poeta' que se encontra com Balthasar). Em última
análise, é Alexandria que tece o destino das personagens, e que constitui o
fantasma do "quarteto".
Freud não anda longe desta ideia. Em cada acto sexual,
como ele diz na correspondência, há, entre presentes e ausentes, quatro
'oficiantes' do que podia ser o serviço duma divindade. Assim se poderiam ler
estas histórias entrelaçadas pela força instintiva da grande cidade.
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