Alexandre Soljenitsin (1918/2008) |
"Soljenitsine adiantou mesmo a hipótese de que a
Gestapo torturava para obter "factos", enquanto a polícia secreta
russa torturava para produzir testemunhos falsos."
(George Steiner:"Aos olhos do Oriente")
O falso testemunho, neste caso, envolvia a entrega da
alma. Não bastava ser forçado a "confessar", a trair, a pôr a vida de
terceiros em grande risco. A ideia é a de que o poder soviético precisava de
corromper para "lavrar" a história, porque os factos lhe eram, no
fundo, indiferentes.
Isso podia dever-se à natureza dogmática da ideologia que
conferia ao Estado uma inexpugnável posição em relação à "verdade
histórica". O regime, simplesmente, estava justificado, fizesse o que
fizesse.
Os "processos de Moscovo" demonstram que essa
ideia era ainda, nos anos trinta, "transversal" ao poder e à
dissidência. Os réus prestaram-se a toda uma encenação que os mostrava aos
olhos de todos como necessariamente culpados, porque o poder
"proletário" não podia enganar-se.
A colaboração de homens como Boukharine, Kamenev ou
Zinoviev na sua própria condenação ultrapassa a técnica policial e mesmo a
questão da eficácia da ideologia. "Pertencer " à Revolução, apesar de
todas as distorções burocráticas e da natureza monstruosa do poder, tinha um significado que só a religiosidade e
a ideia de uma "alma russa" permitem compreender.
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