(Miguel Ângelo) |
"(...) a única razão pela qual o professor
acreditava ser um homem ameaçado por perigosas paixões era o seu pedantismo
(...)"
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
Não seria fácil desviar o professor Lindner da sua vida
sensata e preenchida pelo reconhecimento social e as honras académicas. Ele não
seria passível de "perder a cabeça" por uma Lola qualquer, como o
professor Immanuel Rath do "Blaue Engel". E, no entanto, Lindner julga-se
em perigo por causa da intromissão de Ágata, a irmã do "homem sem
qualidades", na sua vida pacata. Musil diz que é por ser pedante.
Existe nele, de facto, a pretensão do conhecimento, de
que "nada do que é humano lhe é estranho". O silogismo que o leva ao
extravio é o de que as grandes paixões que enxameiam a história (a pequena e a
grande) dependem apenas da condição de ser homem.
Os seus medos são desproporcionados aos perigos que pode
correr. Nem por isso deixam de ser excitantes e lisonjeiros para a sua vaidade.
Porque o professor Lindner é vaidoso. Da sua moral, da sua correcção. O
"frisson" dum pecado acima das
suas possibilidades apenas valoriza as suas escolhas de vida.
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