quinta-feira, 12 de julho de 2012

NÃO ESCOLHEMOS OS NOSSOS PECADOS

(Miguel Ângelo)

"(...) a única razão pela qual o professor acreditava ser um homem ameaçado por perigosas paixões era o seu pedantismo (...)"

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)




Não seria fácil desviar o professor Lindner da sua vida sensata e preenchida pelo reconhecimento social e as honras académicas. Ele não seria passível de "perder a cabeça" por uma Lola qualquer, como o professor Immanuel Rath do "Blaue Engel". E, no entanto, Lindner julga-se em perigo por causa da intromissão de Ágata, a irmã do "homem sem qualidades", na sua vida pacata. Musil diz que é por ser pedante.

Existe nele, de facto, a pretensão do conhecimento, de que "nada do que é humano lhe é estranho". O silogismo que o leva ao extravio é o de que as grandes paixões que enxameiam a história (a pequena e a grande) dependem apenas da condição de ser homem.

Os seus medos são desproporcionados aos perigos que pode correr. Nem por isso deixam de ser excitantes e lisonjeiros para a sua vaidade. Porque o professor Lindner é vaidoso. Da sua moral, da sua correcção. O "frisson"  dum pecado acima das suas possibilidades apenas valoriza as suas escolhas de vida.

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