Blunt as Surveyor [of the King's Pictures], escorting the Queen |
"Serão os 'monumentos do espírito que não
envelhecem', nos altivos termos de Yeats, passíveis de negação moral ou
política?"
(George Steiner:"O sacerdote da traição")
Steiner faz esta citação a propósitio do célebre caso de
Anthony Blunt, consagrado crítico e estudioso de arte britânico, mestre
incontestado, duma intransigência intelectual em relação à "verdade"
na arte por todos admirada, qualidades que o guindaram aos mais altos cargos e ao de curador da pinacoteca da Corôa. O seu defeito? Mentiu durante
quarenta anos a tudo e a todos, fora da sua especialidade. Blunt até à denúncia
oficial pela Senhora Thachter, levou uma vida dupla de espião ao serviço da
URSS.
Essa traição ao seu país e aos seus pares desqualifica,
no mínimo que seja, o seu trabalho na teoria da arte, os seus estudos
competentíssimos sobre Poussin ou Claude Lorrain?
Yeats responde, inequivocamente, separando a obra do
homem. Não teremos que proceder assim em tantos casos? Devemos julgar a pintura
de Caravaggio como a obra dum assassino (ainda que com todas as atenuantes
históricas que é fácil trazer à colação)?
Steiner, ele próprio, confessa não ter uma resposta para
a dificuldade.
Nada impedia Blunt de ser fiel, acima de tudo, à sua
paixão erudita. Naturalmente, pensamos que um mau carácter afecta
necessariamente a obra dum pensador e que os seus vícios não podem deixar de
transparecer e diminuir o alcance da sua escrita. Mas é uma atutude ingénua.
Havia suficientes motivos, alguns deles explanados no longo artigo do "New Yorker", para "compreender" a espécie de esquizofrenia de
Blunt. Porém, o mais importante permanece, sem dúvida, a sua paixão exclusiva a
que nunca faltaram energias, nem uma ética: a do rigor absoluto.
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