quarta-feira, 11 de julho de 2012

O AMOR DA PROVA



"Não existe o amor, Helena, apenas existem as provas do amor."

"Les dames du Bois de Boulogne" (de Robert Bresson, diálogos de Jean Cocteau)


Elias Canetti dizia que a prova é a doença hereditária do pensamento, o que é dizer o mesmo que Jacques, o amante sem esperança, diz a Hélène   sobre o amor.

Mas que modelo inspira essa ideia de um amor independente da sua expressão? O espírito que vive de si próprio é, no fundo, a única coisa necessária e mesmo para aceitar a prova. Só o amor incondicional se aproximaria disso, e apenas o amor materno, por outro lado, tão enraizado no amor de si próprio, pode ser o esboço desse amor.

O enredo do filme de Bresson é baseado num conto de Diderot. Hélène (Maria Casarès) e Jean (Paul Bernard) juraram um amor eterno. Mas ela quer uma prova e o filme começa pela falsa confissão que ela faz a Jean de que talvez já não o ame. Inesperadamente, Jean agarra a oportunidade, com um alívio evidente, para falar na mudança dos seus próprios sentimentos. Em vez de lhe continuar ser fiel a um amor que agora julga não correspondido, ele revela-se fraco e preso a uma lógica de "toma lá, dá cá".

Hélène jura vingar-se. O instrumento dessa vingança é Agnès (Elina Labourdette), uma jovem aristocrata caída em desgraça e obrigada a prostituir-se. Como se esperava, Jean apaixona-se e segue-se o casamento em "passo de corrida". É à saída da igreja, cheia dos antigos amantes da noiva que Hélène descobre o jogo. Mas o desfecho é bressoniano para cúmulo do nosso prazer. Agnès, à beira da morte, ouve as palavras da ressurreição da boca do amor e do perdão.

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