Slavoj Žižek
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"(...) a função do 'riso enlatado' nas 'Sit-Coms' da televisão contemporânea [...], o Outro incorporado no aparelho de televisão[...]- é rir em nossa vez. Assim, mesmo que cansados após um dia árduo de trabalho estúpido, toda a noite, não fizéssemos mais do que olhar meio atordoados para o écrã de televisão, podíamos dizer depois que, objectivamente, através do 'medium' do outro, nos entretivemos à grande."
( Slavoj Žižek, 1989: 35; Robert Pfaller)
O "riso enlatado" parece a aplicação ingénua do entendimento comum de que o riso é contagioso. Mas podemos estar certos que a haver ingenuidade, é num segundo grau: o princípio tem vindo a ser validado pela experiência, segundo a tradição do positivismo americano.
Não importa que seja repetitivo e que se saiba tratar-se de uma ideia pavloviana, sem nada de espontâneo ou pessoal. A coisa deve funcionar, para se manter ao longo de décadas na televisão. E poderíamos acusar o método de artificialismo, quando tudo, mesmo na mais comum das entrevistas, é pré-programado e sujeito a um formato que defenda a produção de surpresas indesejadas? O reflexo pavloviano faz parte da edição geral.
Žižek atém-se a um conceito de alienação marxista e, como não podia deixar de ser, moraliza sobre o tema do espectador derreado por um dia de trabalho que pode, depois do espectáculo, sentir-se compensado por umas horas de ócio bem passadas. A televisão, neste aspecto, não é melhor, nem pior do que um banho seguido de massagem. O relaxamento é real, ou é uma ilusão socialmente significativa, como a dita 'compensação'?
Seria supor que, sob essa ilusão, esse 'atordoamento', existisse uma consciência em estado de hipnose, acompanhada de um 'verdadeiro' tédio que a ideologia transformasse no prazer do conformismo.
É ainda o velho problema da publicidade. Será que, de facto, somos enganados? Ou gostamos que nos contem histórias?
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