quinta-feira, 3 de março de 2016

O ZELO DO NADA



Diocleciano




"O comportamento dos cristãos foi demasiado singular para poder escapar ao reparo dos antigos filósofos, mas estes encararam-no, aparentemente, com muito mais surpresa do que estima. Incapazes de entender os motivos que, por vezes, transportavam a coragem dos crentes para lá dos limites da prudência ou da razão, eles consideravam uma tal ânsia de morrer como o estranho resultado de um desespero obstinado, de uma estúpida insensibilidade ou de um frenesim supersticioso."

Edward Gibbon ("Declínio e Queda do Império Romano")

No século de Diocleciano, segundo Gibbon, os cristãos mostram um zelo e uma falta de "senso comum" que, hoje, só encontraremos, talvez, no radicalismo islâmico e em casos isolados e extremos, como o de Simone Weil que se deixou morrer, por compaixão com o sofrimento humano, num hospital do Kent.

Tudo mudou depois de Constantino e do triunfo terreno do Cristianismo.

Uma coisa que não existe e que só tem realidade no espírito pode mudar o mundo, através da acção daqueles que acreditam nela. Por comparação, o que existe tem a desvantagem de não ser facilmente objecto de crença ( a não ser a alucinatória) e reclamar de nós um tipo muito mais pobre de energia.

O maior desafio para o sucesso material e a pletórica artificialidade do Ocidente tinha que vir duma religião do deserto.

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