No "Trono de sangue"(1957), de Akira Kurosawa, inspirado no "Macbeth" de William Shakespeare, a profecia, feita ao princípio do filme aos dois samurais, só precisou de ser confirmada na sua parte mais previsível (as novas dignidades conferidas pelo soberano como recompensa dos feitos militares) para se tornar num verdadeiro motor da tragédia.
Foi fácil a Isuzu Yamada, a Lady Macbeth japonesa, transformar uma ambição secreta num motivo de legítima defesa. O seu rosto branco é o imóvel contraponto da agitação dum marido fraco de espírito. Só enquanto a profecia se mantivesse longe dos ouvidos do soberano, a vida dele estaria a salvo. Mas poder-se-ia contar com a discrição do seu melhor amigo, quando era o poder supremo que estava em causa?
Assim, no teatro, as palavras são portadoras de destino e, como dizia Alain, uma vez pronunciadas, dão lugar ao irremediável.
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