"A maneira mais simples de ganhar os eleitores era ainda a de lhes distribuir dinheiro no próprio dia de voto; para isso, os candidatos dirigiam-se a profissionais, os 'divisores' (...)"
(Paul Veyne)
Para Cícero, por exemplo, a igualdade seria injusta "por não comportar diferenças de dignidade" (idem). Alguns podiam, pois, alegar que a corrupção dos eleitores fazia parte da legítima preocupação dos candidatos e dos seus apoiantes em preservar um mínimo de 'dignidade' nos resultados da eleição...
Mas os Romanos não foram conhecidos pelo seu espírito, nem pela sua subtileza. Foi, pelo contrário, na adoração da força e do prestígio do nome romano, que melhor souberam exercer as suas mais distintivas virtudes. E nisso foram realmente os percursores das modernas ditaduras de Estado, como bem viu Simone Weil.
A venialidade do voto entre os romanos bem pode ter sido uma das causas determinantes do fim da república e das virtudes estóicas das primeiras famílias patrícias. Certamente que o povo não podia acreditar em eleições compradas. O passo seguinte foi marcado pela nomeação cavalar de Calígula que colocou a dignidade dos cidadãos ao seu verdadeiro nível.
Mas por muito tentadora que seja a comparação de certos aspectos mais caricatos das primárias nos EUA com a dignidade tal como a concebiam os romanos, não podemos ignorar que a história da democracia americana foi a de um ser natural, na emulação e no confronto com a história europeia, enquanto que em Roma, a democracia foi mais uma estética política herdada da sua mais célebre colónia.
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