"Sugere o eventual benefício da irracionalidade (não a irracionalidade sentimental do romantismo, mas a que resulta da oposição e da conjugação dos contrários, em que insiste a sabedoria chinesa), não enquanto fautor de caos, mas enquanto mistério irredutível à uniformização."
"Levantar o céu" (José Mattoso)
É o que diz Morin: "Temos de reconhecer esta característica consubstancial ao universo, à realidade, ao ser, ao nāo-ser, à razão, às ciências, ao homem: o enigma." ("Le vif du sujet").
Mas o mistério não se opõe à razão. É de outra ordem. Pelo que a irracionalidade, como o contrário da razão, não o pode 'descrever'; só como não-racional o problema pode ser posto. Porque podemos ser irracionais, por exemplo, por descontrolo emocional. A ignorância, por outro lado, não faz com que o nosso comportamento seja, eventualmente, contrário à razão. Os nossos erros não são irracionais. São apenas uma maneira inadequada de pensar. Temos de ter em conta que a humanidade se iludiu durante milhares de anos com o geocentrismo que a teoria de Ptolomeu consagrou. Um erro fértil para a história da Igreja e para o endeusamento do poder terreno.
A dualidade dos contrários da antiga filosofia chinesa parece infringir o princípio da não-contradição. Porque não é em tempos diferentes que uma coisa é o que é e o seu contrário. A razão nunca pode ter a última palavra. Este princípio pode explicar uma civilização estática, que se limita a viver no seu isolamento e na sua forma de eternidade. E isso significa - não é verdade? - uma espécie de desprezo da acção, tal como a entemos, que é coerente com algumas religiões do Oriente.
Mas o mundo aberto e o fim do isolamento confrontam uma tal civilização com uma nova dialéctica em que a filosofia dos 'bárbaros' é a outra face da quietude e do estaticismo tradicional. Esse processo foi 'providencialmente' facilitado pelo vírus do idealismo alemão.
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