sexta-feira, 18 de março de 2016

O PADEIRO, A PADEIRA E...



"(...) nas Jornadas de Outubro (1789), as mulheres foram a Versalhes buscar o padeiro, a padeira e o aprendiz de padeiro."

(Emmanuel Le Roy Ladurie)

Tuteia-se o rei, a rainha e o príncipe herdeiro, num tempo em que vale tudo. É um Carnaval em que o 'faz de conta' e a realidade se encontram, a máscara não se diferencia já do rosto.

É isso que se está a passar no Brasil, com o carnaval 'a sério' que segue na peugada do outro, celebrado a algumas semanas?

Porque em vez de corpos despidos e plumas, temos o regime posto a nu, e não se sabe quando é 'quarta-feira'. A grande 'válvula de escape' tornou-se viciosa, e em vez do frenezim sensual que aliviava as tensões sociais, surge agora dos filtros mais venenosos do ressentimento político, o prazer diabólico de derrubar os símbolos e as estátuas dos heróis da véspera.

Enquanto é restaurada a velha ordem classista, em nome da moral, a maioria dos brasileiros, incluídos os 40 milhões que alegadamente o ex-presidente 'tirou da miséria', sentem que foram enganados, porque o seu herói é, afinal, igual a todos os outros políticos. Ao contrário do que Lula poderia pensar, a corrupção não muda de nome por se terem tomado certas precauções.

Todos guardamos ainda na memória a grande devassa que foi a operação 'Mãos Limpas', em Itália e o seu resultado para os partidos do regime. Foi o fim deles e o advento de uma era de demagogia desenfreada, dominada por um 'rei' dos 'media'. O 'Lava Jato' terá provavelmente consequências muito parecidas.

Mas a destruição da política nunca será compensada por um sucedâneo da democracia.


0 comentários: