(Torre dos ventos, em Atenas) |
"O executivo é monárquico necessariamente. É preciso sempre, na acção, que um homem dirija (...). O legislativo é oligárquico necessariamente, porque, para regular qualquer organização, são precisos sábios, juristas e engenheiros que trabalhem em pequenos grupos nas suas especialidades (...). Onde está então a democracia, senão nesse terceiro poder a que eu chamo o Controlador? Não é outra coisa que o poder de depor os Reis e os Especialistas no minuto se eles não conduzirem os assuntos segundo o interesse do grande número."
(Alain)
Alain foi o grande mentor do pensamento político radical, entre as duas guerras mundiais, em França. A doutrina não podia ser mais cristalina.
O povo (os milhões de cabeças) não pode governar, nem legislar (não é especialista em nada). Resta-lhe controlar os seus representantes.
No tempo em que por cá se discutia o controlo de gestão nas empresas, o 'poder monárquico' do executivo obrigou-se a um ritual de comunicação de dados às comissões de trabalhadores, que para não serem tidas por lorpas, os sujeitavam ao escrutínio de algum advogado ou economista, 'amigo dos trabalhadores'. Essa informação e os respectivos pareceres dos assessores sindicais foram uma arma política, a favor dos sindicalizados, mais do que um verdadeiro controlo de gestão.
A empresa era, na ideologia em voga à esquerda, a mina de uma mais-valia que tinha de ser disputada à picareta para haver justiça. Não era um organismo que fazia parte do seu ambiente, com necessidades próprias e de cuja 'saúde' dependiam os postos de trabalho, os dividendos, os bónus e os salários. Na linha do que muitos 'empresários' faziam às suas empresas antes do 25 de Abril, a nova política trouxe rapidamente a descapitalização e o FMI.
A ilusão de um 'controlo de gestão' foi das primeiras a perder-se e, sem pena, para a maioria, essa complicada encenação foi trocada por melhores contratos que mantiveram a 'monarquia' de sempre.
O apólogo de Chartier tem a utilidade de nos lembrar que o Controlo por parte do cidadão numa sociedade mil vezes mais complexa do que a maior das organizações estatais ou empresariais é pouco mais do que um voto piedoso. De facto, toda a gente devia estar consciente desse facto que aproxima a nossa percepção do mundo de um caos titânico, antes de Zeus trazer uma espécie de ordem.
A consolação é que, mesmo assim, a democracia é o único regime que através de eleições livres, torna possível não o controlo, directo ou indirecto, mas a participação no 'caldeirão dos ventos'.
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