André Weil, em 1977
A existência dos números irracionais, dos segmentos que não se podem medir nem com números inteiros, nem com fracções, como diz Simone Weil, lançavam o aluno Törless em plena especulação metafísica.
Esses números são o símbolo de que há um limite para pensar aquilo que fazemos.
O facto de, a certa altura da demonstração lógica, termos de suspender a razão é um problema de outra ordem do que o da crescente complexidade dos cálculos.
Assim, para além dum cada vez maior afastamento do pensamento "terrestre", em relação ao pensamento do ponto de vista astrofísico (Arendt) que caracteriza a ciência mais avançada, temos que lidar com o problema, tão antigo, é certo, quanto Aristóteles, que é o dos limites da razão. Simone vê nessa dificuldade um motivo de regozijo:
"Porque, em primeiro lugar, uma relação numérica, impossível de expressar em números, existe apesar de tudo, definida por quantidades perfeitamente determinadas. Depois, esta relação, para ser apreendida como tal, exige um exercício da inteligência bem mais puro e mais despojado de todo o socorro dos sentidos do que qualquer relação entre números.
Um tal choque, uma alegria destas podem muito bem ter levado à fórmula "tudo é número", i.e.: há em todas as coisas sem excepção relações análogas às relações entre números."
Carta a André Weil de 28/3/1940 (Simone Weil)
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