terça-feira, 6 de outubro de 2015

OS DOIS LADOS

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"O pior é pensar-se que se pode realizar qualquer política social com qualquer política económica; que se pode erguer qualquer política económica com qualquer política financeira; e que uma política económica ou financeira qualquer pode servir de base à política internacional ou ultramarina que nos apraza realizar."

"Salazar" (Filipe Ribeiro Meneses)

Palavras sacramentais. O melhor do pensamento da direita está neste encadeamento. Podíamos ver aqui a parte de verdade do causalismo e a parte de verdade de que não somos realmente livres. O historicismo só difere disto porque, em vez de se inspirar na física, se inspira na lógica do período romântico.

Salazar, aqui, parece realista e movido apenas pelo 'bom-senso'. Mas a sua ideia do mundo é fatalista. O homem é compreendido pelo estômago e pelos intestinos, apesar de 'dotado de alma', como não podia deixar de ser.

Ora, para quem pensa assim, a força (ou a economia, as finanças, o contexto europeu, etc) tem sempre a última palavra. Mas isso é só meia missa.

E é aqui que entraria a esquerda, se se conseguisse libertar dos traumas do 'socialismo real' que foi um outro tipo de fatalismo, doutrinário e profético, mas mais redutor, por não ter compreendido a natureza do poder engendrado pelo pesadelo burocrático.

A outra parte da verdade é comprovada por todo o passado do homem. Pelo 'grão de loucura' de que fala o poeta, pela fé na renegeração, pela crença no espírito que move o mundo e o salva da escravidão. É por isso que a verdadeira religião está aqui e não nos que se limitam a cumprir a 'letra da lei'.

E dir-se-ia que esta luta milenar (para lá da divisão política e dos modernos conceitos de esquerda e de direita) é providencial, devido à nossa falibilidade e à nossa ignorância.

É porque não podemos ter certezas absolutas que os dois 'lados', se assim se pode dizer, têm continuamente de medir forças para que a adaptação à realidade seja o mais 'justa' possível.

Claro que nem sempre é possível evitar a demonização do adversário, e isso é o que se tem visto mais. E nunca por nunca as duas 'partes' se poderão compreender uma à outra. A paixão política é útil, mas tem esse preço.



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