André Ivanovitch (em "As almas mortas", de Gogol), depois de ter perdido as ilusões quanto a uma carreira no estado, volta-se para as suas terras na província, julgando encontrar a missão da sua vida contribuindo para a reforma da vida rural que faria a Rússia, finalmente, entrar no século XIX.
Começou por despedir o malandro do intendente e passou ele a superintender todos os trabalhos. Nunca mais os camponeses lhe chamaram paizinho, nem seu benfeitor e pôde assistir a um fenómeno estranho: as suas terras produziam sempre muito menos do que as dos seus camponeses, e as desculpas destes eram o que havia de mais esfarrapado.
Apesar de ter aliviado o trabalho das mulheres, a fim de lhes proporcionar mais tempo para as tarefas domésticas, verificou que, em vez disso, elas se procuravam isentar ainda mais, aproveitando-se da sua fraqueza, e se entregaram às disputas e ao mexerico, a ponto dos maridos se queixarem.
Enfim, nada era como nos livros e o nosso André Ivanovitch acabou por largar tudo e se entregar à bela preguiça dos Oblomov.
Este fracasso é comum a muitas personagens da literatura russa e espelha a bipolaridade dessa grande nação, na altura em que Tolstoi e Tchekov escreveram.
A ideia do progresso e os ideais de 1789 encontravam terreno propício numa classe dirigente que falava francês como o "Anti-Cristo" (Napoleão) e recebia pelo correio os jornais e revistas que a mantinham " à la page", enquanto a grande massa da população até 1861 só conheceu a servidão e as suas tradições mais do que seculares.
Quando tantos indivíduos da classe culta se lançavam às reformas não mediam realmente as suas forças. Iludiam-nos o snobismo lírico da primeira sociologia e as teorias do desenvolvimento histórico automático.
Mas nunca é a parteira que faz crescer.
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