sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A ILÍADA




"A Necessidade é um laço que cerca, uma corda de nós ('peîrar') que retém o todo no seu limite ('péras'). 'Deî', 'é necessário', palavra fundadora, aparece pela primeira vez na 'Ilíada': 'Por que é necessário ('deî') que os Argivos façam a guerra aos Troianos?'"

"Nozze di Cadmo e Armonia" (Roberto Calasso)

Se percorremos os motivos para a guerra nos testemunhos da 'Ilíada', encontraremos em primeiro lugar a honra ofendida (o rapto de Helena por Páris) mas, rapidamente, os mortos dessa mesma guerra encerram os vivos no nó corredio da vingança e numa espécie de competição assassina entre o valor de uns e de outros. Esta, porém, ainda não era uma guerra de 'estados-maiores."

A aritmética, por exemplo, tem uma necessidade de outro tipo. Não pode deixar de ser 4 o resultado de 2+2. Mas antes de pensarmos isso, tivemos de postular a vontade dos deuses. A coisa mais parecida com uma lei da natureza. Ora, os deuses, para os Gregos, eram humanos 'maiores do que a vida', pois tinham as mesmas paixões e eram sujeitos aos mesmos caprichos dos mortais. Para que houvesse ordem no Olimpo, inventou-se a Necessidade ('Ananke') a que o próprio pai dos deuses se tinha de submeter. A Necessidade é a ideia do limite. Toda a força da onda acaba no seu perímetro de areia.

Depois, há aquela conhecida anedota do homem rico e do mendigo que é mais ou menos assim:
-"Cavalheiro, uma esmola por favor. Preciso de comer." ao que o outro responde:-"Não vejo a necessidade."

Ambos invocam a necessidade, mas só o mendigo a sente. A insensibilidade do outro também 'tem que ser', está na ordem das coisas, mas é coisa que ele nem pode pensar.



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