sábado, 31 de outubro de 2015

DO ESCARRADOR

O escarrador e uma cena do "Doente imaginário", de Molière


"(...) um pai duma compleição doentia, numa comprida casaca forrada de astracã e de pés nus enfiados em chinelos tricotados, que suspirava sem parar enquanto percorria o seu quarto e expectorava para um escarrador cheio de areia depositado num canto;"
"As almas mortas" (Nicolai Gogol)


O escarrador foi um desses acessórios que em todos as casas e escritórios se impunham, há uns anos atrás, duma utilidade que ninguém questionava, até o momento em que desapareceram das nossas vidas, sem qualquer explicação, apesar de, como é óbvio, continuarmos a cuspir.

Ora, há ideias que ocupam o fundo das nossas cabeças, que aparentemente sempre estiveram lá e que, sem sabermos como, se tornam obsoletas e são substituídas, da noite para o dia, por outras com outro design e outra função.

Embora mobilem o nosso interior, essas ideias de facto não nos pertencem, pelo que é natural que não nos seja pedida a opinião sobre o assunto.

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