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"E a Necessidade, lembra Eurípides por a ter conhecido 'atravessando as Musas e os cimos', sem jamais 'encontrar algo de mais forte', é a única potência que não tem altares nem estátuas. Ananke é a única divindade que não escuta os sacrifícios."
(Roberto Calasso)
Por vezes, ainda lhe chamamos destino, mas num registo religioso não assumido. Sentimos a força maior, mas não a maior força. Essa 'liberdade' devemo-la às esperanças que depositámos, desde sempre, na ciência e no conhecimento que são uma espécie de instrumentalização da antiga Necessidade.
Não dominamos os oceanos, a sua força incomensurável, a sua vastidão. Mas vamos para onde queremos manobrando entre as ondas e os ventos, às vezes entre Cila e Caríbdis. Só o conseguimos, porque os oceanos 'não nos querem mal' (Alain). Podemos contar com a sua neutralidade, em qualquer caso. Não foi o Mediterrâneo que perseguiu Ulisses, foi a sua má sorte, ou, simplesmente, a lógica da narrativa homérica.
Ora, os Gregos viam mais longe, talvez porque não estivessem tão ofuscados pelo progresso científico. Aliás, se foram eles que iniciaram esse caminho, tinham ainda consciência da origem religiosa da ciência e de como essa nunca foi uma situação de domínio sobre a Natureza.
Talvez alguns pensem que a capacidade de destruição do planeta, tantas vezes apresentada como argumento, é de facto uma prova de poder humano. Mas é só mais uma prova de cegueira.
Ananke não considerará os motivos ou as atenuantes em relação aos que "não sabem o que fazem". Não há, para a divindade, opinião pública, como não há corrupção, nem lobistas.
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