domingo, 4 de outubro de 2015

O HOMEM NOVO




"Enfant géopolitique observant la naissance de l'Homme nouveau" (Savador Dali)


"A finitude é a verdade da qual o infinito é o sentido."

(J.L. Nancy, "Le sens du Monde")

A fórmula não é reversível, porque o finito é caótico, ou legião, como os demónios. É do sentido que vem a ordem e a liberdade, com a lei.

Teríamos uma vida sem o sentido que lhe dá a infinitude? É o papel de todas as religiões. Não devemos perguntar se uma determinada religião é verdadeira, mas como poderia ela ser falsa. Ou, não existindo, ou tendo deixado de existir alguma das religiões tradicionais, o que há em vez dela, com a função de nos fazer acreditar na infinitude, mesmo que de forma implícita.

A ideia da Revolução, por exemplo, tem como premissa que não se trata de substituir um estado de coisas por outro. Exige que se 'corrija' uma trajectória. É como um míssil que, dirigido a um asteróide, o desviasse do impacto sobre a terra. Embora não pareça essa, por exemplo, a imagem do marxismo, sujeita à máquina da história, também este determinismo, através da cláusula das 'condições concretas', admite uma espécie de correcção.

Esse capítulo, porém, deu lugar a um outro avatar da infinitude. A ciência e a tecnologia têm a novidade de nos proporem uma continuidade 'ad aeternum', ou uma 'eterna juventude' exteriores a qualquer humanismo e independentes da ética. O sentido deste desenvolvimento é o do sucesso, a afirmação da existência por si mesma.

Temos, finalmente, o infinito que merecemos. Pelo menos, o que é mais adequado a uma transformação do homem a que já não poderemos chamar de 'homem novo'...



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