quinta-feira, 21 de março de 2013

QUE MERCADO?

(Samantha Tidy - Marché Aux Puces)



"(...) não é necessária uma explicação do mercado exógena ao próprio mercado. No mercado, entendido como actividade de troca, cria-se riqueza, mas o mercado não tem por fim criar riqueza. Do mercado tira normalmente lucro quem tem as melhores atitudes, competência, mas o mercado não está destinado a premiar o mérito. O mercado distribui a riqueza, mas não é um instrumento para criar a igualdade. Cria conhecimento, mas não está pré-ordenado para criá-lo. É eficiente, no sentido em que permite a cada um adquirir só as informações que lhe servem e, acredita-se, todas aquelas que pensa poderem serví-lo; não eficiente no sentido da utilização dos recursos. Porque o mercado é um processo que não tem um fim determinado: por isto quem nele participa pode realizar os próprios fins em liberdade, a liberdade de escolher e a liberdade de se fazer escolher."

(da recensão de "L'intelligenza del denaro" de Alberto Mingardi, por Franco Debenedetti, in 'Il Sole 24 Ore')


Com quase as mesmas palavras se poderia argumentar, por exemplo, que o oceano não tem um fim, e que é por isso mesmo que se pode nele navegar, pescar, etc.

É verdade que se o oceano pudesse ser 'estatizado' e submetido a um plano quinquenal, passaria a ter um fim 'económico' (ou, provavelmente, anti-económico).

A ideia de que o mercado é um processo, primeiro, agrada-me, para logo me parecer 'antiquada', no sentido em que, para parafrasear Sartre ao contrário, 'o marxismo já não é o horizonte da nossa época."

Terá uma 'natureza', como um órgão social, neste caso? Pela experiência histórica e pela lição das grandes revoluções do século XVIII e XX, a noção mecanicista de que o homem foi feito para dominar a natureza pertence definitivamente ao período das doenças infantis.

Talvez por isso, não possamos realmente 'dominar' o mercado, como coisa natural e social, o resultado astronómico das interacções humanas e do estado do mundo, mas podemos interferir, sobretudo, em meios mais ou menos fechados, como podemos encerrar o Mediterrâneo ('mare nostrum') ou poluir os oceanos.

O problema é que, tal como o mar não está livre da nossa poluição (sem que isso lhe dê uma nova finalidade, porque realmente se trata duma luta do homem contra si próprio), o mercado só é realmente 'livre' da interferência nefasta dos indíviduos, dos grupos e dos estados, no papel, ou na cabeça de um Adam Smith vulgarizado.

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