"Anátema" de Alberto Abate
"O cristianismo deve conter nele todas as vocações sem excepção, pois que é católico. Por conseguinte, também a Igreja. Mas, a meu ver, o cristianismo é católico apenas de direito e não de facto. Tanta coisa que se encontra fora dele, tanta coisa que eu amo e que não quero abandonar, tanta coisa que Deus ama, pois de outro modo não teria existência."
Simone Weil ("Espera de Deus")
O Régis Debray do "Fogo sagrado" não poderia estar de acordo com Simone Weil e o seu famoso escrúpulo contra o "anathema sit".
Como se sabe, era a principal razão para ela permanecer à porta da Igreja, sem entrar, assumindo a condição de todos quantos a instituição, ao longo da sua história, condenou injustamente (a cruzada contra os Albigenses, a Inquisição, etc), ou porque tendo existido cedo de mais ( AC ) não puderam conhecer a salvação.
Debray ripostaria que essa cláusula é essencial à definição de qualquer religião, enquanto necessariamente se deve distinguir das demais. E o facto de hoje assistirmos a um impulso ecumenista e a uma maior tolerância em relação ao que no passado teria sido considerado herético, tal reflecte apenas o estado anémico da Igreja e a sua perda de influência no mundo.
Simone invocava a própria definição de católico para desejar que a Igreja realizasse de facto a sua vocação universal.
A história parece dar razão ao autor do "Fogo sagrado" e o universalismo se convém mais ao cristianismo do que a outras religiões etnicamente centradas, nem por isso deixa de ser utópico.
O que não lhe retira qualquer eficácia real, e de certo modo justifica Simone Weil.
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