A Ilíada |
"Mas à hora em que o lenhador prepara a sua refeição (...)"
É assim que Homero (na tradução de Simone Weil) relaciona a liturgia do quotidiano com a história. À mesma hora em que, no bosque, foi poisado o machado, os Dánaos romperam a dianteira.
Os gestos da vida comum não estão aqui apenas para dramatizarem o contraste com a guerra, a acção que interrompe o trabalho e o pacífico correr dos dias.
A Necessidade, uma noção sem a qual os antigos não compreenderiam a vida, e que nós, pelo ambiente tecnológico e o nosso modo de vida, constantemente perdemos de vista, apresenta-se-nos na descrição da 'Ilíada', dividida em dois tempos, ou 'andamentos', como na música, mas no fundo a mesma.
O lenhador apoia-se contra a árvore cuja vida destrói, utilmente, e a sua vida é regulada como num serviço religioso, entre a casa e a floresta. Mas no mirmidão, o mesmo homem é conduzido pelas forças, como se fosse ele a árvore que sucumbe aos golpes do destino.
Da guerra, a paz do campo é vista com olhos de ver. O soldado que consegue regressar a casa conhece as duas faces da Necessidade: aquela que o levava enquanto 'dormia' e a outra que não lhe dá tempo para pensar.
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