terça-feira, 19 de março de 2013

AS BOAS MANEIRAS DE ARNHEIM

 

É preciso ser indulgente para com a juventude, dizia-se ele, uma pessoa torna-se completamente impossível quando se limita a negá-la."

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)


Arnheim, o empresário, o homem de cultura, já pensou, evidentemente, como os jovens, cujas opiniões, agora, se sente na necessidade de desprezar.

Talvez o mundo fosse um pouco mais compreensível se as pessoas tivessem apenas as ideias da sua idade (para não falar das da sua posição, o que acontece, todavia, mas com muito recurso à retórica).

Como homem do mundo, Arnheim quer manter a civilidade, mesmo com energúmenos como Hans, o germanófilo, namorado de Gerda. Daí a indulgência e o horror de tornar-se alguém 'completamente impossível'.

É sina da criatura humana ter de reaprender as ideias mais importantes sempre que chega ao mundo. Era muito fácil, por isso, o regresso ao macaco, na praia diante do braço com o facho da estátua da liberdade, como no filme de Schaffner.

Esta ideia da eterna reaprendizagem não significa que não pensemos conforme a idade, com todas as consequências disso.

Mas, então, como explicar que, em certas condições, o conhecimento seja um processo e uma acumulação independentes da passagem dos anos no indivíduo?

É por essa razão que a ciência não é igual à vida e, embora seja como ela tão precária, normalmente não é reaprendida. Isso seria, contudo, fundamental para compreendermos o mundo e nos compreendermos.

Mas não, com excepção dos grandes 'cismáticos', como Einstein, parte-se do último adquirido, num processo que se parece muito com a 'briccolage'.

 

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