(Macular degeneration) |
"Um comediante fez notar um dia que a morte, na nossa sociedade, parece uma simples faculdade, dito de outra maneira, 'não se via objecção em morrer desde que não se fosse obrigado a estar presente quando tal acontecesse."
A verdade é que quem está 'presente' é a imaginação, a qual nos leva a morrer mil mortes. Mas a falta de perspectiva sobre a morte de que se fala também naquele artigo é como o que se chama em oftalmologia a doença macular. Ficamos reduzidos à visão periférica, por não podermos focar o sol negro dentro de cada um de nós.
As nossas igrejas estão saturadas dos sinais da morte e da ressurreição de Cristo ( e não é hoje dia de Páscoa?), mas são ilhas perdidas, cada vez mais exóticas (e mais visitadas do que habitadas). A lição era que Deus dá e que Deus tira. Fica só a passagem entre duas eternidades com emissão de luz.
A religião do Homem ocupa-nos totalmente. Ofusca-nos com o seu brilho. Mas não pode pensar a morte. Ela é um escândalo para a razão.
Por isso arranjámos as coisas de maneira a não termos que estar presentes. A que a morte não nos pertença, nem tenha um significado. Temos a 'faculdade' de morrer. E é só.
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