"Mas paremos neste ponto e passemos outra vez à dita História Literária. Eu quero que morra comigo porque, como essa gente é indómita e não sabe que coisa é crítica, me apedrejariam se a vissem (...);".
( Luís António Verney, carta de 1/1/1753)
A crítica talvez seja má para o negócio, no caso de um restaurante, como o disse o Miguel Esteves Cardoso há dias, razão pela qual ele se abstém de comentários quando o serviço piora. Contenta-se, pela sua parte, em precisar a data na qual o mesmo serviço se podia recomendar.
Já na literatura, uma crítica implacável pode matar no ovo uma falsa vocação, ou uma verdadeira, mas sem fé nela própria.
Ninguém é tão separável da sua 'obra' que não a considere como coisa das suas entranhas. São raros os que são capazes de reconhecer que muito dela merece o caminho do tubo digestivo. A verdade é que existe uma acepção do verbo obrar que é pertinente nestes casos.
Mas um primeiro êxito pode equivaler a um 'corte de asas'. A provação e mesmo a imediata incompreensão quase sempre fortalecem um autor. Alguns dos que, por timidez ou outra razão qualquer, não foram 'criticados' em vida podem ser ainda descobertos, o que deita por terra a ideia que diz que a crítica é indispensável.
Se Max Brod tivesse destruído os manuscritos do seu amigo de Praga, ninguém conheceria o verdadeiro génio de Kafka. E pode-se perguntar onde estava o crítico, à altura de reconhecer a absoluta novidade de, por exemplo, "O Processo"?
Verney não se quis sujeitar ao juízo tacanho de contemporâneos como o jesuíta Franco que " que só conta maravilhas e milagres dos seus". Ora não pertencendo Verney a nenhuma 'capela' (a não ser a dos 'estrangeirados'), só podia contar com a crítica 'destrutiva' com que uma capela ataca outra ou os 'descapelados'.
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