André Maurois (1885/1967) |
"Quanto a mim, disse cem vezes que lhe devo tudo, e até algumas das minhas desgraças, porque ele me ensinou a lançar a minha rede demasiado alto. Mas o seu pensamento continua a ser a minha religião, e é aliás firmemente religioso."
(André Maurois)
Palavras de um brilhante discípulo sobre o mestre, agora esquecido. Conhecido por Alain (pseudónimo de Émile Chartier), filósofo que odiava os sistemas, sem deixar de reconhecer o génio de Hegel ou de admirar as séries do fundador do positivismo. Não deixou de escrever um tratado sobre "O sistema das Belas Artes", de resto, inspirado em Comte. Mas o seu deus era de facto Platão, sobre cujas ideias escreveu o melhor da sua prosa. Platão, precisamente, o filósofo sem sistema e que, através da sua recriação de Sócrates, chegou ao 'nec plus ultra' da sabedoria que é o reconhecimento da ignorância fundamental. Para o Sócrates platónico, com efeito, a alegada ignorância não era apenas táctica para levar os outros a pensar a sua própria insuficiência. A ideia de que conhecer é lembrar leva-nos ao problema da impossibilidade de conhecer realmente o passado, porque o passado real é o ser.
É por razões como esta que Maurois pode declarar como religioso o pensamento de um homem que não era cristão, nem muçulmano, budista ou hindú, mas que em todas as religiões via o humano, o humano menos racional ou psicológico que se possa imaginar, porque essencialmente incognoscível, como o cosmos que, para lá dos universos teóricos, é incognoscível. Como se vê, não andamos longe dos atributos de Deus.
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