"(...) porque um objecto apreendido no seu conjunto imediatamente perde a sua extensão e muda-se em conceito."
(Robert Musil)
Talvez seja por isso que à medida que avançamos nos anos tudo se torna insuportavelmente previsível. Perdemos a estrada sem fim pela qual caminhávamos, sempre à espera de uma volta no caminho que nos surpreendesse e nos transformasse, e o 'conceito' toma conta da nossa vida. Parece-nos que a partir de uma certa altura, deixamos de estar vivos e passamos a ser a ideia que nos acaba.
"Eis por que ele hesita em tornar-se uma coisa qualquer; um carácter, uma profissão, um modo de vida definido são nelas mesmas representações em que desponta já o esqueleto que será tudo o que dele restará no fim." ("O Homem Sem Qualidades")
Vê-se que esta hesitação em assentar numa 'forma e num espaço' não é mais do que o medo de viver. A ideia que parece resumir a nossa vida é o verdadeiro envelhecimento.
As auto-definições são sempre enviesadas e não têm entrada no paraíso. Foi o que aconteceu a Adão quando deu um nome ao seu estado de culpa.
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