quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

TOT E TAMOS

Thot


"Infelizmente, os trabalhadores podem decidir pouco ou nada sobre a forma como as suas poupanças diferidas são investidas. Consequentemente, por mais de quarenta anos, os bancos e as companhias de seguros têm investido biliões de dólares dos fundos dos trabalhadores em novas tecnologias que reduzem o trabalho, apenas para eliminar os empregos dos próprios trabalhadores cujo dinheiro está a ser utilizado."


"The End of Work" (Jeremy Rifkin)




Para não falar de como esses fundos foram e são jogados na economia de casino. As agências de 'rating', apesar de cúmplices nesse jogo, podem ainda, apresentar-se, graças a uma nova 'maquillage' de rigor e de 'doa a quem doer', como 'guardadores da vinha' relativamente fiáveis, na falta de um santo que valha a quem poupou ao longo da sua vida.

Mas quanto aos investimentos, com recurso à tecnologia, para maximizar os lucros à custa do emprego, vão muito bem com o discurso do progresso e dos benefícios para o consumidor. Com o pequeno inconveniente, assinalado por Rifkin, dos consumudores sem emprego não poderem alimentar a economia, levando à emigração das indústrias e à exploração de novos mercados até que a extinção do emprego obrigue esses capitalistas a nova deslocalização.

Neste movimento, há uma lógica que não se pode dizer que seja já a do lucro, visto que o nomadismo beneficia cada vez menos capitalistas, que recorrem, como se vê nos EUA, à guerra fiscal para engrossar os rendimentos duma elite que já não são assegurados por qualquer actividade produtiva.

O princípio que parece prevalecer, dir-se-ia duma forma independente do interesse duns e doutros, é o do desenvolvimento tecnológico. Essa é que é a verdadeira revolução permanente sonhada por alguns expoentes do marxismo.

Cabe aqui uma citação do 'Fedro' de Platão (que Nicholas Carr faz no seu livro 'Os Superficiais'). O deus egípcio Tot elogia as vantagens da escrita ao rei Tamos. Mas "Ele recorda ao deus que um inventor não é o juiz mais fidedigno do valor da sua invenção: "Oh homem cheio de artes, a uns é dado criar as coisas de arte, e a outros julgar o grau de dano e de lucro que tem para aqueles que as irão utilizar."

Pela primeira vez na história temos alguma consciência das consequências da tecnologia. Até quando consentiremos em abdicar de sermos juízes dela?

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