Don Quijote (Salvador Dali)
"Yo sé y tengo para mí que voy encantado, y esto me basta para la seguridad de mi conciencia, que la formaría muy grande si yo pensase que no estaba encantado y me dejase estar en esta jaula perezoso y cobarde, defraudando el socorro que podría dar a muchos menesterosos y necesitados que de mi ayuda y amparo deben tener a la hora precisa y extrema necesidad."
Don Quijote (Miguel de Cervantes)
O encantamento é a razão que permite a Dom Quixote contrariar a visão de todos e de, aos seus próprios olhos, mudar a cobardia em valor e a ofensa numa prova de carácter. De facto, transformar a sua vida de ridículo tresloucado na vida dum herói lendário.
Nenhuma prova, nenhum argumento valem contra a sua fé, a qual, se precisa dos livros para a sua coerência interna, prescinde de qualquer sanção da realidade. Basta-lhe ser fiel à sua arte de interpretar o mundo como uma aparência, para o que tem as mais prestigiosas cauções filosóficas.
O bem estruturado discurso do cónego de Toledo (cap.XLIX) resume tudo aquilo que o bom senso e os apelos à razão podem imaginar, mas encontra a mais indignada oposição de quem, como diríamos hoje, sofre duma psicose delirante crónica.
No entanto, esta loucura é curiosamente parecida, na sua negação da realidade, com a fé de todos os visionários e de todos aqueles que realmente mudaram o mundo pela força e constância com que perseveraram no seu erro, ou no seu método.
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