Bestyal Ware Lado B: Distopía |
A força das ideias está no livro como a matemática pode estar numa máquina. É preciso quem as encarne, quem desperte a 'bela adormecida'.
Ideias que hoje não possuem qualquer atractivo porque, imprudentemente, com elas se tentou actualizar a utopia com o resultado de se terem mudado em distopia, já tiveram o encanto da liberdade criadora.
Mas enganar-nos-íamos se pensássemos que essa força de sedução está toda nos livros, nessas belas que acordamos para o mundo.
Parece-me, por exemplo, que o ambiente de mudança, a sensação de que tudo era possível que se viveram no '25 de Abril' vinham mais do fim do antigo regime que do mérito de algumas ideias em voga, aliás, já desacreditadas em muitos lugares e por inúmeras testemunhas.
Porém, tudo o que tinha sido objecto da repressão e da mais mesquinha censura pelo 'Estado Novo' ganhou foros de verdade incontestável quando a derrocada começou. Daí que os 'clássicos' do marxismo fossem, por muitos, entusiasticamente descobertos, já quando a crítica da experiência amontoava as provas da distopia.
Quem leu, pois, o quê, nesse momento da nossa história? O leitor fazia parte dum colectivo eufórico e, compreensivelmente, acrítico. Quanto aos textos, foram 'santificados' pela ditadura e tornaram-se numa ideologia vencedora.
O sortilégio criado por uma doutrina que antecipara o fim do regime e parecia ter as respostas todas ainda faz hoje de Portugal um país 'sui generis'.
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