Podíamos, para diminuir o trabalho de Bigelow, perguntar qual é o seu 'parti pris' neste seu primeiro filme depois do notável "The Hurt-Locker". Critica o governo do seu país? A tortura? 'Compreende' a luta dos radicais da Al Qaeda?
Mas temos que nos impor essas questões, tal é a integridade e a força deste cinema (apesar de algo distraídos pelos cones de pipocas e de, às vezes, termos de fazer a experiência, tão conhecida de alguns professores, da displicência tribal de certa juventude).
É fundamental a identificação com Maya (Jessica Chastain), a especialista da CIA que, ao contrário de Carey ("Homeland"), não tem um trauma para explicar a sua paixão. Ao fim e ao cabo parece mesmo que a captura de Bin Laden se deveu à sua obstinação.
É a primeira vez que vemos o trabalho de destruição da tortura, não sobre a vítima, o que é comum, mas sobre o torcionário. Já não estamos na situação dos carrascos nazis que simplesmente 'cumpriam ordens'. Este torcionário é frágil. Depois, o 'êxito' da inquisição pode comparar-se sempre com o número de sacrificados a menos. Bigelow não acusa. Regista e parece querer demonstrar que, para além da violência e da desumanidade, há um lugar para a razão, quando a parte mais fraca destrói as suas raízes.
Cinema de acção, com estrita economia de meios, sem sub-intrigas nem 'figuras públicas' (que sempre gostamos de ver interpretadas e como que ao nosso alcance). Obama não aparece, não é com a política que termina o filme, mas com o espanto no rosto de Maya.
Bill Laden é um nariz em 'contre-plongée'. Uma linha sinuosa que explica muito da história da última dúzia de anos.
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