terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O DIÁLOGO DAS LIMUSINAS


Depois da limusine de Cronenberg, na parábola sobre o capitalismo chamada 'Cosmopolis' (na Rússia de Putin, os noivos gostam de se fazer fotografar junto aos monumentos, saindo destes símbolos do novo-riquismo e do gangsterismo), Leos Carax abre-nos o mundo do cinema e do romantismo hugoliano através dum fabuloso Denis Lavant (Monsieur Oscar) e dos seus 'rendez-vous' com as várias vidas de Paris, a partir duma limusina-camarim conduzida pela enigmática Céline (Edith Scob).


Percebemos que a personagem de Lavant é uma espécie de actor a quem é distribuído um guião que o leva a encarnar as grotescas personagens que parecem colar-se-lhe à pele e viver à vontade no seu corpo de contorcionista.


Há uma história de amor no terraço do hotel Samaritaine, que é a súmula de todos os desencontros. E há a cena retro-futurista no cemitério do Père Lachaise, em que é brilhantemente sugerido o que vai acontecer à memória dos mortos. A eternidade foi substituída pela internet. Em todos os túmulos, em vez do 'aqui jaz' um endereço no cyber-espaço: 'visitai o meu 'site'.


Estes 'sketches' de Monsieur Oscar podem representar os 'reality shows' de amanhã, em que a liberdade se vive toda no virtual e a velha humanidade se reduzirá a um diálogo de limusinas, já recolhidas à garagem, depois de terem servido de camarim e ponto de apoio aos diversos actores e aos seus simulacros. E de que falariam em tempo de crise? Do seu medo de perder o emprego.

 

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