"Sempre, tanto quanto a obra é de artesão, o modelo da obra está fora da obra; mas tanto quanto a obra é de artista, é a própria obra que é o modelo."
(Alain)
A facilidade com que compunha poesia e improvisava música foi o sinal, para Alain, de que não era poeta nem músico. Esta convicção é talvez difícil de entender pela maioria das pessoas, que se considerariam, por essa razão mesma, como verdadeiros artistas.
Mas a citação explica por que não é assim. A obra imaginada, independentemente do processo da sua materialização, é um molde apto para produzir cópias em diversos formatos e suportes, que é o que o artesão faz, ao manufacturar uma cadeira ou outra coisa qualquer.
Mas imagino que Miguel Ângelo, por exemplo, pensasse a partir do bloco de mármore e inventando com o possível, descoberto a cada cinzelada. O modelo surgiria, assim, a cada golpe do cinzel.
O novo 'software' de desenho e pintura ou de composição musical facilita demasiado a vida dos utilizadores que aspiram à criação artística. Também, por isso, nunca passarão de 'combinadores' de cores e de sons que escolhem o resultado, mais ou menos fortuito, do seu jogo com o computador.
O destino dum artista que se deixou prender por uma fórmula (como por exemplo a 'distorção' expressionista) é o de perder a sua arte. Mas o que é moderno é nunca podermos alcançar qualquer maestria, apesar da compulsão social para nos exprimirmos.
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