Sergey Rachmaninov |
Ao ouvir o extraordinário 3º concerto para piano e orquestra e a sua dificílima cadenza, acorrem as metáforas sugeridas pelo timbre dos instrumentos ou pelo ritmo inebriante (as cavalgadas do Finale, os rarefeitos planaltos do solista).
A certa altura surge uma fulguração de espaço, como se o que acabamos de ouvir não tivesse desaparecido com a sucessão de outra coisa, mas como se pairasse ainda tal uma nuvem: ao fortíssimo sucede uma espécie de silêncio, criando-se sob o peso da nuvem sonora um vácuo donde emerge o fio de voz do piano. O tempo parece concentrar-se num cristal.
É sem dúvida preciso ler a pauta para alcançar uma "geografia" da escuta, mas em certos momentos essa espacialização do tempo acontece.
A táctica deste lirismo que noutras obras atinge quase a "sensiblerie", é a de um sucessivo desatar de nós, dum permanente adiar, de reter as forças e de frustrar o clímax a que só falta declarar-se "com todas as letras", para, enfim, os instrumentos, já libertos dos entraves do percurso, exalarem, como num último suspiro, o tema.
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