domingo, 6 de janeiro de 2013

HISTÓRIAS PARA TODOS

"Le grand paranoïaque" (Salvador Dali)

"Sabemos todos o que há a fazer, mas não sabemos como ser reeleitos se o fizermos."

(Jean-Claude Junker)


Não se podia ser mais claro sobre um dos maiores dilemas da democracia. Parece, assim, que o que detem os altos funcionários europeus e a Comissão Europeia para fazer a Comunidade sair da crise é a menoridade política das nações que se continuam a comportar como o Grande Animal de que falava Platão, sem atenderem ao seu interesse próprio, a médio e a longo prazo.

O pai da filosofia admitia, por isso, que os governos mentissem ao povo 'soberano' das democracias, ou que lhe contassem histórias de embalar, para o seu próprio bem, está bom de ver.

Mas por que é que o povo não reage como um doente a quem o médico prescreve um tratamento doloroso e que ele segue à risca se quiser curar-se, sem se perguntar qual é o interesse do médico na sua cura e por que é que ele quer que o doente sofra?

As situações, de facto, não se podem comparar. Um povo não é um indivíduo, como é óbvio, e as relações entre os governantes e governados não ocorrem no 'espaço e no tempo' duma conversa entre pessoas. As categorias políticas e a tendência de todos para procurarem confirmação para as suas ideias e preconceitos, em vez de procurarem o que neles falha o teste da realidade (Popper), levam a que todos os políticos sejam suspeitados de se quererem 'safar' à custa da maioria. Os eleitores, em Portugal, parecem ter cada vez mais razões para não aceitarem os 'médicos' e as suas prescrições.

O descrédito da política, um pouco por toda a parte, torna muito compreensíveis as palavras daquele funcionário europeu. E o caso de Monti, na Itália, é a melhor prova de que os 'doentes' já só concedem o benefício da dúvida aos 'médicos' fora da política.

O problema é quando Monti sentir que tem de contar histórias...

0 comentários: